Rabecas & Violas

Rabecas & Violas

Texto de abertura do CD RABECAS & VIOLAS

Depois de vários anos fazendo e tocando violas caipiras,
rabecas, adufes, caixas de folia e uma infinidade de outros instrumentos
usados em festas populares, senti que faltava um registro
sonoro de instrumentos musicais realmente autênticos,
construídos levando em conta somente a sabedoria e a tradição
popular.
A maneira simples de construir esse tipo de instrumento pode
ser encontrada tanto no Brasil quanto na China, na África, nos
Andes ou em qualquer parte do mundo: são os instrumentos de
“construção popular”.
Eles não são feitos por luthiers (pelo menos eu não me identifico
como luthier) pois, apesar de os luthiers serem exímios artesãos,
a construção popular é bem diferente. São duas técnicas completamente
distintas.
O que os construtores de instrumentos musicais populares fazem
leva em conta as diferenças regionais, as matérias-primas
disponíveis e as características históricas dos povos que colonizaram
cada região.
No Brasil, esse tipo de construção vem sendo passada oralmente,
de geração em geração, desde o período da colonização. É
por isso que uma viola ou uma rabeca tradicional feita por um
pescador no litoral paranaense é diferente de uma viola caipira
Rabecas e Violas ou de uma rabeca feita no interior de São Paulo. Essa diferença não é
apenas na afinação, nos detalhes ou no desenho do instrumento ela é
tão gritante que até um leigo percebe logo que é resultado de duas culturas
diferentes.
Esse tipo de instrumento musical é o foco do meu trabalho e a gravação
desse CD vem para mostrar vários tipos de violas de cravelhas, rabecas,
caixas, adufes e outros instrumentos que eu confecciono para serem usados
em festas populares.
As violas usadas na gravação são violas de cravelhas de madeira, ou
seja, não possuem tarraxas metálicas.
Para dividir a tarefa de tocar as várias rabecas, convidei Bob Mendes,
um Rabequeiro com R maiúsculo e talvez um dos poucos que compreendem
a verdadeira linguagem da rabeca paulista.
Entre Rabecas e Violas mostramos ritmos tradicionais da nossa cultura
caipira, como Cururu, Valsa, Querumana, Rastapé, Toada e outros.
Optamos por uma gravação sem maquiagem e priorizamos o som puro
dos nossos instrumentos. Não sei se ficou bonito mas, com certeza, ficou
verdadeiro.
É assim que soam os nossos instrumentos e é assim que nós somos.
Valmir Roza